Olhe, o senhor...

Já vem sendo habitual de há uns tempos a esta parte que pessoas me digam coisas como "Desculpe, o senhor sabe-me dizer...", "O senhor não quer aderir...", "Filho, deixa o senhor passar..." ou "Ai! Valha-nos nosso senhor!". Esta última ouço, quando passo a correr por senhoras de idade avançada e acabo por lhes dar um ou outro empurrão que as fazem desequilibrar-se. Um ligeiro aparte, não percebo porque raio as velhinhas se parecem com aqueles bibelôs de cristal que temos à beira de uma mesa. Sempre que há crianças em casa a correr desalmadamente e a passar tangentes (que mais parecem senos ou co-senos) a estes artigos de decoração suspiramos de medo. Medo, que elas acabem por não partir o sacana do cristal que só está lá para ganhar pó!
Voltando ao assunto principal, como é possível que me tratem por senhor? Um puto completamente sem barba, a menos quando a deixo crescer durante uma semana e aí parece que não a faço há um ou dois dias. Eu ainda sou do tempo em que me chamavam menino. Tempos esses em que tudo era desculpável, no fundo, era apenas um menino que estava a brincar e ainda não sabia que não se podiam atirar pedras da calçada à cabeça de trausiundes.
Hoje eu gostava de poder chegar a casa coberto de lama, com as calças rasgadas no joelho por ter andado a particar joelho-ski nos corredores da escola e ter decidido ir para a rua quando chovia a potes. Se hoje em dia eu fosse para a rua correr quando chovia a potes, o mais provável era ouvir lá atrás, uma mãe a dizer ao seu filho "Filhote, nunca faças isto. Este senhor é maluco. Até já ouvi dizer que este senhor escreve umas parvoíces sobre o que nós estamos aqui a falar e sem nunca indicar as suas fontes bibliográficas...", in Senhora na rua que passeava o seu filho.