segunda-feira, setembro 26, 2005

Dos assassínios da Língua: uma dissertação quase autobiográfica

Após um dia absolutamente deprimente, cá estou eu para dissertar num tema que é caríssimo ao meu coração: não é pois senão a questão (eh, eh!) dos assassínios de língua.

Assassínios de língua, perguntarão vocês, afinal o que raio isto é. Devo dizer que quem tem a carta ou está a tirá-la e já teve aulas de condução sabe perfeitamente do que falo, a menos que tenham tido uma sorte excepcional. E este é apenas o mais crasso dos exemplos, claro está. Embora devam estar a pensar "pah, esta gaja é uma estereotipada: primeiro possidónios, depois instrutores de condução??!!".
Parece um exagero mas é verdade: a grande maioria dos meus inquiridos que se revela nessa mesma situação (com carta/tirando carta) sabe do que falo.

O meu trauma com os assassínios de língua começou cedo, uma vez que os meus avós e tia-avó são tão pródigos nessa arte. É um milagre o facto de o resto da família não continuado pelo mesmo caminho. Eu sei que este mal-falar é resultado da má instrução, mas algumas destas gaffes não deixam de ser absolutamente deliciosas. O massacre é tanto que, orgulho-me de dizer, criaram uma lingua de direito próprio. Tão próprio que tive de fazer um dicionário. Embora o seu nome não esteja ainda oficializado , chamamos-lhe, carinhosamente, a Língua Familiar. Específico, como vêem.
Mas a verdade é: vocábulos como "ambesiduas", "atrásdantonte", "amorangos", "venaroso" e "enfominhada" merecem ser catalogados. "Metidas em caixinhas" como disse o Jam (e a boa da Manela). Para que possam ser lidas como: "as duas", "à três dias atrás", "morangos" (esta foi fácil) e "venenoso". Daí o Dicionário! (que perdi miseravelmente....)

No meu caso concreto, quando tirei a carta, sofri horrores: eram pérolas tais como, e passo a citar: "embalagem", "...Le dão", "ruduzir", "hades..." para, respectivamente, "inércia", "Lhe dão", "reduzir" e "hás-de". Enfim, o inferno em 30 aulas + exame. Consequentemente (claro que não apenas por causa disso) passei a odiar o meu instrutor com todas as fibras do meu ser e o histerismo por que passei aquando da minha aprovação nesse malfadado exame de condução prova-o claramente.
"Quando Le dão a indicação"???? "Ruduza para segunda"?????
Será que durante o que quer que seja que os habilita a darem aulas têm uma cadeira do género: "Como cometer as maiores atrocidades no Português no menor número de palavras??"
É claro que a segunda grande categoria de gente a assassinar a língua é, colectivamente, "O mundo do futebol/Possidónios em geral" (como já devem ter notado, os Possidónios são um dos meus ódiozinhos de estimação...)
Entre jogadores e equipa técnica, não sei o que é pior... hummm... Definitivamente, os jogadores. Alguns são tão broncos que não sei como conseguem conduzir (Humm....) Anyway, entre os jogadores destaca-se o "defunto" Jardel com : "Quando marco golo, sobe-me a naftalina" e "Eles precisam de um bode Respiratório".
Sobre os possidónios...é melhor nem começar a falar.
Como já me estou a alongar sem dizer nada de jeito, resta-me a acabar com a terceira categoria: George W Bush. Mas esse não assassina a língua, assassina ideias o que é pior....
eh, eh... (riso sacana)