terça-feira, setembro 12, 2006

Estaminé do cidadão

Hoje decidi ir renovar o meu passaporte. Hoje em dia isso é feito rapidamente na Loja do Cidadão, local convenientemente pensado para que qualquer ser humano possa realizar todas as tarefas que envolvem burocracia de uma só vez. O mais difícil é conseguir a combinação certa de senhas para que se possa ser atendido sem esperas em todos os serviços.

Felizmente hoje precisava de ir apenas a uma das banquinhas que existe naquela loja e por isso não tive de fazer muitos cálculos para que não demorasse muito tempo, apesar de ter tirado uma senha para informações e outra para ser atendido. Quando tirei a senha das informações estava cerca de 10 números mais próximo de ser chamado do que na outra, mesmo assim fui atendido antes de ter informações... Para evitar este tipo de problemas de filas penso que deveria existir um sistema informativo na rádio que anunciasse de hora a hora o estado das filas nas diferentes Lojas do Cidadão e nos desse também alternativas "Neste momento o Registo Civil na Loja do Cidadão das Laranjeiras está muito congestionado devido a corte de linha eléctrica, opte por ir primeiro tratar do seu bilhete de identidade. Já nos na Loja dos Restauradores há problemas...".

Não sei se alguém que esteja a ler isto foi pedir um passaporte recentemente. Foram criadas máquinas próprias para o efeito. Consistem num monitor, uma câmera fotográfica, dois locais para impressão digital e um local para assinatura. Todo este conjunto tem vida própria e sobe e desce consoante a nossa altura. Devo dizer que a altura a que aquilo começa é considerável. Considerável o suficiente para uma criança ou uma pessoa com 1 metro de altura ter de saltar para tirar a sua fotografia (e todos sabemos como hoje em dia os gnomos estão a querer viajar mais).

O primeiro passo consiste na fotografia e antes de a tirar a senhora disse-me "Não vai mostrar os dentes!". Ora eu uso aparelho e sei que não é bonito, mas a senhora não precisa de me tratar assim. Quando me disse isto os meus olhos começaram a marejar e não fosse ela ter dito imediatamente "Olhe directamente para essa lente aí!" uma lágrima ter-me-ia começado a escorrer rosto abaixo.

Depois passamos às impressões digitais. Sim, no plural. Para o passaporte eles acharam que não bastava terem apenas o nosso indicador direito, tinham de ter também o esquerdo. Neste momento surgiu uma boa questão, como é que tiram as impressões digitais às pessoas que não têm braços? Não sei como é que os ladrões ainda não se lembraram de cortar os braços para não serem identificados. Depois a sua alcunha poderia passar de "O mãozinhas" para "O pézinhos".

Para completar todo o processo falta apenas assinar. É-nos dado um papel, não um papel qualquer, mas um que diz no canto inferior direito Assinatura v1.0. Sei de fonte segura que o governo civil está a trabalhar na versão 1.2 que traz bastantes melhoramentos, como não encravar a meio de uma assinatura, o que nos leva a ter de parar a assinatura e reiniciá-la perdendo toda a assinatura que tinhamos feito. O Assinatura v1.0 deve ser colocado em cima de um sítio que vai passar para o ecrã o que estamos a escrever no papel. Quando colocado a simpática senhora diz-nos "Diga quando estiver pronto!", ao que eu respondi "Estou pronto!" e fiquei à espera de um "JÁ!". Esperava também que ela me tivesse dito o meu tempo quando acabei de assinar.

Foi assim uma tarde bem passada no Supermercado do Cidadão.