domingo, outubro 02, 2005

Leitura no Wc: uma perspectiva evolutiva


Domingo.... Domingo é o dia mais deprimente da semana. Segundo Calvin (e não Calvino: esse andava a desencaminhar povos no século XVI), a sensação de um Domingo é a mesma que um condenado à morte tem quando saboreia a sua última refeição. O Domingo é a nuvem num dia de eclipse, mesmo mesmo à frente do sol. É a colher para escavar o túnel e, 10 cm depois, perceber que o chão é de granito maciço. É o comboio e não a luz do dia.
Mas, realmente, não era disto que eu queria falar.
Ainda na mesma linha de pensamento do post anterior, levanta-se a questão do milhão de dólares: mas porquê a necessidade humana quase intrínseca e inexorável de... ler na casa-de-banho??? Muita gente, ao longo dos séculos, desde a invenção daquela que por muitos é considerada a melhor invenção de todos os tempos na gloriosa época dos romanos, se perguntou: Porquê!
O significado evolutivo da retrete (palavra que originou profundas reflecções num certo fim-de-semana em Sta. Rita) é claro: O conforto, a privacidade, o rolo de papel higiénico. Mas, o que fazer nesses 1 minuto a meia hora que se lá está dentro? Oh, dilema!!! assim, a Mãe natureza sob a forma da inteligência humana, em conjunto com o aperfeiçoamento da Imprensa de caracteres móveis por volta de 1450 por Gutemberg, resolveu que esse tempo, tão precioso em épocas vindouras, devia e teria de ser ocupado. Qual a utilidade para a sociedade passar meia hora de forma tão improdutiva: a olhar para uma parede??? Assim deliberou e assim se fez: hoje em dia, tais minutos preciosos são gastos por meia humanidade a pôr a leitura em dia, desde o famoso diário Destak, flagelo de quem anda de transportes públicos (nem é o Destak: são mesmo os distribuidores que são chatos à brava) até aos grandes clássicos da literatura como a "Odisseia" de Homero e "Artemis Fowl" (eh eh!). Sim, leitor! Em certos domicílios, a qualidade dos livros pode avaliar-se pela distância a que se encontram dos respectivos WCs, relacionando-se estas duas variáveis numa relação inversamente proporcional: quanto melhor o livro, mais perto da retrete está.
Naturalmente que, honrando sempre o princípio da variabilidade intraespecífica enunciado por Darwin na sua Teoria da Evolução (pedra basilar dos actuais biólogos de todo o mundo), há criaturas que se escapam desta tendência uma vez que este gene é herdado de forma mendeliana.
É claro que, por vezes , há problemas. No caso de grandes clássicos da literatura mundial, como a "Odisseia" ou "Orgulho e preconceito" ou ainda "O processo", é difícil a concentração na tarefa incumbida pelo Metabolismo quando se tem de descodificar o que raio as personagens estão a dizer no meio de tanto recurso estilístico. Isto origina um aumento do tempo no Wc, o que pode levar a dissabores domésticos pelo, agora citando Markl, "trono de porcelana". (Ao ponto de arrancar cabelos, uma vez que o outro habitante também sente o chamado da Mãe Natureza).
Outra situação caricata é quando que se está a ler é tão interessante que não se consegue largar. A pontos de lavar os dentes e ler. De arranjar o cabelo com uma mão só. De tomar banho de imersão com as mãos de fora. O que mais uma vez origina problemas do foro doméstico. Neste caso, os indivíduos que de facto se sentem identificados tem os dois alelos do gene "Ler no Wc".
E isso é chato. São as Pancadas na Porta, as injúrias, as ameaças, o rol de Obscenidades.
Assim, o tempo passado na casa-de-banho, mesmo a fazer as coisas mais insignificantes, pode ser também ele indício da qualidade do livro.
Conclusão: a leitura na retrete tem um profundo significado evolutivo.