terça-feira, outubro 24, 2006

O assunto é sério...

Todo e qualquer jogo para mim sempre foi um sofrimento... Especialmente jogos que envolvessem a componente física. Já não falo de futebol, basquetebol ou jogo da macaca, para mim o jogo que mais me atormentou a infância foi o jogo do sério!

Eu sofro de uma patologia que dá pelo nome de risorreia e que se caracteriza por uma excessiva, e por vezes desadequada, vontade de rir. Por isso, para mim, jogar ao sério sempre foi um dos maiores desafios que enfrentei. "Maior"... Não é assim tão grande, porque geralmente não aguento mais de 2 segundos sem me rir enquanto olho para a outra pessoa. Os meus adversários pensam que eu estou a gozar com algo na cara deles, mas isso não é verdade, esta doença simplesmente não me deixa ficar sério. Estava a tentar lembrar-me de alguma vez que eu tivesse vencido uma partida de sério, mas tal, ou nunca aconteceu, ou se aconteceu já não guardo memórias de tal. Se tivesse acontecido de certeza que me lembraria, pois isso era um acontecimento marcante na minha vida, quase como a queda do meu primeiro dente ou o meu primeiro beijo (deste não me lembro... Ah! esperem, não aconteceu... A menos que aquela foca do Jardim Zoológico conte...).

O jogo do sério é talvez o jogo mais parvo que alguém inventou, especialmente se jogado por dois especialistas. Chegam a passar-se minutos em que duas pessoas simplesmente ficam com cara de parvos a olhar uma para a outra. Quem está de fora e vê um jogo a decorrer força sempre um final antecipado e começa a tentar fazer rir um dos concorrentes com frases do estilo "Olha o Zé a rir-se! Vê-se mesmo que não sabe jogar isto! Olha para ele, já se 'tá a rir! Oh! Já perdeu! Perdeu! Olhem p'r'áquilo, está a rir-se!". Quando isto não resulta passa-se geralmente para as caretas por trás da pessoa que se quer que vença. Se um dos concorrentes perde devido a isto ouve-se sempre qualquer coisa como "Oh! A culpa foi dele! Ele 'tava a fazer caretas! Assim não vale! Vai uma desforra?". Se a resposta a esta pergunta for negativa, o derrotado vai sempre treinar um pouco, que é como quem diz, amuar para um canto.

A minha patologia para além de me fazer perder jogos do sério é bastante incoveniente em certas situações. Para mim ambientes silenciosos são preocupantes e causam em mim tamanho nervosismo por medo de me desmanchar a rir, que acabo sempre por soltar uma sonora gargalhada. Quando a vontade de rir é muita tento falar com outra pessoa sobre um qualquer tema cómico para que possa ter razão para me rir e não pareça simplesmente um pateta alegre. A situação seguinte é seguramente possível de acontecer.

(Num funeral, tudo em silêncio e apenas se ouvem algumas lágrimas)
Eu (pensando): Epah, que tristeza... Não me posso rir agora, está tudo tão triste, se me risse ia ter consequências desastrosas. Não posso pensar que estou aqui, vou-me abstrair. Ai, aquele episódio de ontem do Seinfeld, quando o Kramer entra a deslizar pela porta. OH NÃO! VONTADE DE RIR!!! Tenho de disfarçar... Vou tossir e solto uma gargalhada. (Tosse prolongada para me poder rir um pouco) Aquele Kramer é mesmo louco... OH NÃO! Vou ter de falar com alguém!
Eu (para a pessoa do lado, falando baixinho, e a seguir a tossir mais um pouco para disfarçar): Ai esta tosse... Se calhar tenho tuberculose, hehe! (já a sorrir)
Outra pessoa: O meu primo faleceu de tuberculose...
Eu: Este não é o funeral do teu primo?
Outra pessoa (com uma lágrima a escorrer pela face): É...

É triste... Hehe!