quinta-feira, julho 10, 2008

Diário de um caçador de melgas...

5h30: Acordei, porque tal como um bom pescador que se levanta cedo, é esta a hora que as melgas mordem mais. Na verdade, acordei porque ouvi um zumbido. Penso que as leis da selecção natural de Darwin não se aplicam às melgas, aliás, acho que toda a teoria da evolução se desfaz quando consideramos as melgas. Em teoria estes bichos já não deveriam fazer qualquer barulho a voar (para que as suas vítimas não os ouvissem), mas o que acontece na realidade é que não só fazem muito barulho, como insistem em fazê-lo aos nossos ouvidos.

5h35: Depois de tentar dormir por tapar as minhas orelhas com um cobertor, começo a sentir demasiado calor e sou obrigado a destapar-me. Não vale a pena, vou ter de acender a luz.

5h36: Acendo a luz da mesa de cabeceira e caminho até ao interruptor para ligar a luz.

5h38: Ligo o modo "Seek and Destroy" e não demoro mais de 1 minuto a encontrar o meu alvo numa parede. Mais uma vez as leis de Darwin não se aplicam: as melgas já deveriam ser brancas para se confundirem com a parede.

5h40: Procuro uma almofada e aproximo-a lentamente da parede, sei que um movimento em falso me fará custar várias horas de sono. Quando a almofada se encontra a 10 cm da parede decido atacar. Simples e eficaz! Matei a melga! Agora tenho mais 5 horas de sono pela frente. Desligo as luzes, puxo os lençóis e tento dormir.

5h45: Será que este barulho era um zumbido? Ou já estarei apenas a imaginar coisas? Não deve ser nada. Vou mas é tentar dormir.

5h47: Agora tenho a certeza que era um zumbido, mas está tão longe. Talvez não seja. Talvez seja apenas um carro a passar numa rua distante, ou o vento na janela.

5h50: "Zummmm..." foi o que ela fez aos meus ouvidos. Não acredito que tenho mais uma melga no meu quarto... Repito todo o processo de ligar as luzes e activo mais uma vez o modo "Seek and Destroy".

5h55: Consigo encontrá-la numa parede. Qual é a probabilidade de a encontrar tão facilmente? Esta vai ser destruída tal como a sua parente.

5h56: Não acredito que falhei! Onde é que está agora a melga? Quanto tempo vai levar a pousar? Será que vou ficar acordado muito tempo?

6h15: Pela primeira vez consigo voltar a encontrá-la em voo, mas rapidamente a perdi de vista porque na sua trajectória ficou com os cortinados como pano de fundo. Agora percebo porque as melgas são escuras. Afinal Darwin ainda tem razão.

6h30: Voltei a encontrá-la e ela está a voar para a mesma parede onde esteve parada há 30 minutos. Parou! Não acredito que vou poder finalmente dormir. Preparo a almofada. Devagar. Porra! Falhei!

6h40: Vou ter de desistir. Ela levou a melhor. Vou tentar cobrir-me com o lençol e dormir.

7h20: Consigo ouvi-la do outro lado do lençol, mas sei que não vou passar de predador a presa pois ela não será capaz de passar a o lençol. Julgo até ouvi-la a tentar picar o lençol. Acabei por levar a melhor. Apesar de não conseguir dormir por causa do barulho, também não a deixo alimentar-se.

10h20: Acabo por me levantar, se a apanhasse agora iria fazê-la sofrer. Não encontro e desisto, vou fazer a minha vida normal.

10h30: Lembro-me que tenho uma maneira de a destruir. Vou usar o que Paul Ehrlich chamava de balas mágicas, algo que mata apenas os parasitas e não o ser humano, "Raid - Casa e Plantas". Ahahah!

10h40: Continuo ainda com o meu riso maléfico. Mas, de repente lembro-me: e se ela sobreviveu? Não vou conseguir fazer mais nada o dia todo, estou a viver um filme de terror, parece-me que sempre que cruzo uma esquina ouço aquela música de suspense. Ou será apenas ela a zumbir-me aos ouvidos?

2 Comments:

At 11:00, Blogger Miguel said...

A cena mais eficaz (e mais geek também) para dar cabo das melgas é limpa-vidros!

Mandas uma borrifada e a melga fica sem a tensão superficial de que precisa para voar e colar-se às paredes.

É lindo vê-las em queda livre em direcção ao chão :-D

 
At 15:36, Anonymous Anónimo said...

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz......

 

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