segunda-feira, setembro 19, 2005

Quem inventou tudo isto?


Este anúncio não dispensa a consulta do prospecto ou do folheto informativo. Em caso de dúvida ou persistência dos sintomas consulte o seu médico ou farmacêutico.
Devo ter soprado 16 velas quando acabei finalmente por perceber estas frases que me atormentavam desde a remota infância. Não, crianças, não vão agora a correr soprar 16 velas, estava apenas a utilizar uma perífrase, provavelmente não sabem o que isso, mas o André elucida-vos, pequenotes. É uma figura de estilo, o resto aprendem depois na escola...
Bem continuando com o objectivo central do post.
Imagino que, no seio da comunidade de pessoas que dizem estas frases no fim de um reclame a um medicamento, deverá existir algo semelhante a uns mundiais desportivos. Segundo pesquisei o recorde nacional anda na casa dos 2,97s, muito longe da marca mundial que se cifra nos 2,53s, detido pelo britânico James Smith.
Depois desta tremenda estupidez vou dissertar sobre conteúdo das frases em si, analisando vários pontos.
Tomemos como exemplo um medicamento para a febre, portanto um anti-pirético. Penso que a primeira coisa que uma pessoa fará quando está com 40ºC de febre será certamente ir consultar o folheto informativo (até porque têm letras bem grandes e quando estamos com tremendas dores de cabeça o que desejamos é um pouco de leitura para relaxarmos).
Parece-me que este tipo de prospectos necessita de uma revisão. Para o caso do mesmo medicamento o folheto deveria ser somente uma folha A4 com o seguinte conteúdo em letras bem grandes:
COMPRIMIDOS PARA A FEBRE
TOME 3 POR DIA!

Nalguns casos poderia ser acrescentado um porra! no fim, só para dar mais ênfase. Para este e para todos os outros medicamentos deveria ser proibido o folheto conter mais de 10 palavras.
Algo que gosto nestes folhetos, como já referi, é a quantidade de informações que é disponibilizada a um profundo desconhecedor de farmacologia, que ainda por cima se encontra doente. A parte da interacção entre fármacos é a que mais me fascina. Por exemplo: a utilização deste fármaco em simultâneo com prosbiterol pode provocar prurido, com tetrahidrozalona pode provocar úlceras, etc... Aqui o doente pode ver isto de duas perspectivas:
1ª Mas o que raio é o prosbiterol e a tetrahidrozalona? Não faço a mínima ideia se ando a tomar isso, ou se alguma vez cheguei a tomar, a menos que aquela coisa que eu tomei uma vez na faculdade...
2ª Ok, tenho febre, mas ando a tomar prosbiterol, qual se suportará melhor, a febre ou o prurido? Então e se eu tomar este anti-pirético e depois aplicar uma qualquer pomada para o prurido?
Grandes dilemas que estes folhetos informativos lançam...
Quanto à segunda frase do aviso inicial, permitam-me uma pequena reflexão, quem é a pessoa que depois de 5 semanas em estado febril ainda insiste em tomar o medicamento sem consultar nenhum médico ou farmacêutico? Gosto que haja um aviso para isto, pois imagino a quantidade de pessoas que esgotavam stocks inteiros da farmácia pensando que a febre acabaria por passar. Talvez acabasse, quando estas pessoas tivessem vestido um sobretudo de pinho (esta expressão fascina-me pela simplicidade com que se compara a morte a um casaco para a chuva).
Bom, penso que expus todas as ideias que tinha sobre este flagelo da humanidade. Resta-me recomendar-vos que leiam sempre o folheto informativo e que consultem sempre o vosso médico ou farmacêutico.